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06 maio, 2011

  Enquanto a água calma e surpreendemente limpa reflecte-me com uma luminosidade hospitaleira e a pedra em que me encontro dá-me a noção de ser o meu porto de abrigo por agora, descontraio os músculos, rodo o pescoço dorido, tapo a cara devido á força do sol nesta tarde, abro o meu caderno e apronto-me para escrever na derradeira folha.
 
   Será? Toda a minha vida esteve cheia de incertezas. Nunca fui forte o suficiente para ter a certeza daquilo que pretendia, aliás sinto que tenho medo de ter certezas. Medo de falhar. Medo de me dar por vencida. Gostava que pelo menos uma vez, soubesse o meu destino, traçar um objectivo e lutar por ele. Fazer algo por mim, pensar em mim, visto que mais ninguém pensa. E até pode ser sozinha, mas gostava de ter coragem para lutar mesmo sabendo que posso falhar. Porque toda a gente erra certo? E porque não eu? Eu sou imperfeita, até demais. Agora pergunto-me: Será que sou capaz? Capaz de qualquer coisa, por mim, nunca olhando para trás e lutando pelos meus sonhos como se lutasse pelo meu último sopro? Não! Eu não sou capaz! Estou rodeada de medo, da aflição de pensar que sou a única a ter medo. Acredito que não seja, mas é essa a sensação que dá.

   Faço agora uma pausa. Ajeito-me na pedra, sinto-me a cair. O sol já perdeu alguma da sua inóspita força e começo a sentir já algum vento. Uma brisa leve que, se tivesse menos roupa, poderia ser vista como frio. Volto a rodar o pescoço, junto as pernas e pouso o caderno em cima delas. E pego na caneta.

   Sou tida em conta como fraca, por toda a gente. Eu sei que sou. Não tenho confiança em mim mesma, como posso confiar nos outros? Sou inexperiente em tudo o que possam pensar, não tenho qualquer valor. Todos me menosprezam.Contudo já me habituei á simpatia dos outros para comigo. Há simpatia que não existe, á simpatia que é uma ilusão. É um simples pensamento quimérico, a única coisa que me alimenta de esperança, pensar que tenho amigos. Na verdade, já não sei o que faço neste mundo. Nem sei a razão pela qual me trouxeram a este mundo. Provavelmente até nem fui uma gravidez desejada, começando aí todos os meus dilemas, ou como costumo dizer "trilemas". Não faço falta a ninguém, não sou desejada por ninguém e todos os meus problemas são a triplicar. Não sirvo, não sirvo para nada!

  E acabou a última página do meu caderno. O sol já se põe. Será uma noite estrelada. Uma noite fria. Uma noite aterradora. Agora teria todas as certezas do mundo, e estas não me assustavam. Sabia bem o que fazer. E desta vez, nada me iria impedir. Era como um objectivo pelo qual lutava. O meu primeiro e último objectivo.

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